‘Mãe andava com pessoas erradas’, diz avó de menina de 9 anos assassinada em Camaçari
O dia não foi fácil para Lucinéia Reis da Cruz. Nesta quinta-feira (28), ao deixar a Delegacia de Homicídios de Camaçari, ela, que é avó paterna de Bruna Cruz, 9 anos, fez um desabafo e disse que perdoa o responsável por assassinar a menina a tiros. “Perdoo quem matou minha neta. Não queriam matar ela”, acredita. O enterro da estudante será às 9h desta sexta-feira (29) no Cemitério Jardim da Eternidade, em Camaçari.
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Bruna foi morta a tiros dentro de um carro, modelo GM Corsa, cor prata, na noite de quarta-feira (27), pouco depois de sair da escola onde estudava, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Além dela, Deivid Demétrios dos Santos, 19, namorado da mãe da estudante, identificada apenas como Jamile, também morreu. Ela e o cunhado, que não teve o nome revelado e também estava no carro, fugiram. De acordo com a Polícia Civil, nenhum dos dois se apresentou até a noite desta quinta (28).
A avó foi à delegacia para prestar depoimento e saiu do local por volta das 11h30, na companhia do irmão, Jorge Campos Reis. Ao CORREIO, ela disse que acredita que Bruna acabou sendo atingida porque a mãe andava com más influências.
“Tenho certeza que minha neta não era o alvo dos bandidos. Ela tinha uma mãe que andava com pessoas erradas”, revelou.
Segundo informou a Polícia Civil, por meio de nota, com exceção de Bruna, todos os ocupantes do carro atingido têm envolvimento com o tráfico. Deivid ainda respondia por homicídios.
Apesar disso, Lucinéia tinha um bom relacionamento com Jamile, a quem ainda se refere como nora. “Sempre me dei bem com a minha nora, mas queria ficar mais perto de minha neta desde a morte do pai dela, meu filho”, contou.
O pai de Bruna, Jailton Silva da Cruz Júnior, foi assassinado em dezembro do ano passado, durante um assalto, também em Camaçari. Ele tinha 27 anos e o carro onde a filha morreu estava em seu nome.
A avó paterna da criança contou que, há um mês, deixou Feira de Santana, onde mora o irmão, e decidiu se mudar para Camaçari, exclusivamente para cuidar da neta.
O que intrigou Lucinéia é que, pouco antes do crime, ela ligou para Jamile, que mentiu. “Ela me disse que estavam com a minha neta numa igreja, em Salvador. Enviou até a foto de uma igreja para mim. Era mentira dela”, lamentou.
Aulas suspensas
Na verdade, segundo a polícia, Bruna tinha acabado de sair da escola, quando ocupantes de um carro de cor escura, de modelo não identificado, atiraram pelo menos 13 vezes contra o carro onde a menina estava. A estudante chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do Hospital Geral de Camaçari (HGC). Deivid morreu no local.
A menina era aluna do 4º ano do ensino fundamental do Centro Educacional Carpe Diem, no bairro do Gleba E. Funcionários da instituição ficaram chocados quando souberam da morte, através de uma rede social. As aulas foram suspensas.
Auxiliar administrativo da escola, Eliomar da Silva Santos disse que a menina era muito querida por todos.
“Bruna era uma menina muito alegre e adorara vir para a escola. Era aluna daqui desde a educação infantil. Todos nós ficamos consternados, por isso a direção suspendeu as aulas. Amanhã (sexta) talvez só a turma dela que não tenha aula, mas isso ainda será decidido”, disse Eliomar.
Segundo ele, Jamile e Deivid foram à escola para buscar a menina por volta das 17h. “A mãe dela e o rapaz pegaram Bruna aqui, como de costume. Eles seguiram no carro normalmente, o mesmo que foi alvo dos disparos”, contou. Uma hora depois, Bruna estava morta. Ela ainda usava a farda da escola.
Relembre o caso
As 13 perfurações na lataria do Corsa dão dimensão da violência do ataque. As vítimas foram executadas sem chance de defesa.
Bruna e o namorado da mãe dela, Deivid, morreram após disparos efetuados por ocupantes de outro carro, no bairro Ponto Certo, em Camaçari. O crime aconteceu por volta das 18h, quando o veículo passava em frente ao Condomínio Lucaia, do Programa Minha Casa Minha Vida.
Deivid estava ao volante quando o Corsa foi fechado por um outro carro e os ocupantes do outro veículo começaram a atirar. A grande maioria dos disparos atingiu o lado do motorista. Bruna estava sentada no banco de trás, quando foi baleada. Ela morreu pouco depois.
Os disparos perfuraram as portas, capô, vidros e lanternas. A mãe dela, Jamile, teria sido atingida na perna. Não há informação se o cunhado se machucou.
Na manhã desta quinta-feira (28), a avó paterna de Bruna prestou depoimento na Delegacia de Homícidios. A delegada Maria Tereza preferiu não revelar o conteúdo do interrogatório.
No lado de fora, o irmão de Lucinéia, Jorge, morador de Feira de Santana, disse que não sabia de nada sobre o crime, mas que a família está arrasada com duas mortes brutais em tão pouco tempo.
“Vim aqui só para acompanhar minha irmã, avó de Bruna. O que eu sei é que estamos arrasados. Em dezembro mataram meu sobrinho. Agora, a filha dele”, lamentou.
Passagem
Enquanto a avó paterna de Bruna era ouvida, o pai de Deivid, aguardava do lado de fora a vez de ser chamado para depor. “No momento, não tenho o que dizer. Ele era o meu filho caçula de dois e namorava com ela (Jamile) há uns três meses”, declarou Joilson, que informou apenas o primeiro nome.
Questionado sobre o fato de o filho ter passagem na polícia, respondeu: “Não tenho o que falar. Tenho minha consciência limpa. Jogo tudo isso na mão de Deus”.
Confira na íntegra a nota da Polícia Civil:
“A Delegacia de Homicídios (DH/Camaçari) investiga as mortes de Deivid Demétrio dos Santos, de 19 anos, e de uma garota de 8 anos, ocorridas na noite de quarta-feira (27), no bairro Ponto Certo, naquela cidade. As vítimas estavam em um veículo com a mãe da criança e o irmão de Deivid, quando foram abordadas por homens, ainda não identificados, que chegaram em outro carro e atiraram. Deivid, que tem envolvimento com homicídios e tráfico de drogas em Camaçari, morreu no local. A menina chegou a ser socorrida para o Hospital Geral daquele município, onde já chegou sem vida. As outras duas pessoas que estavam no carro, que também têm envolvimento com o tráfico, conseguiram fugir.”
por Correio da Bahia
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