Um lugar cheio de gente que largou tudo para viver lá. Quatro dias em Itacaré foram suficientes para conhecer pessoas que trocaram Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Bélgica, Inglaterra, Romênia e França pelo Havaí baiano.
A cidade, de 27 mil habitantes, fica a pouco mais de 350 quilômetros de Salvador e é famosa por ser point de surf. Entre outubro e novembro, reuniu 140 surfistas de 17 países no Mahalo Surf Eco Festival. Mas não decepciona quem chega atrás de sombra, água fresca e comida gostosa. O Festival Gastronômico Sabores de Itacaré teve sua primeira edição de 11 a 21 de dezembro e mostrou a que veio. Foram 37 restaurantes participantes e aulas-show nos fins de semana.
A Praia da Concha fica perto da Pituba e do Centro: mar tranquilo para stand up paddle e caiaque, com pôr do sol incrível na Ponta do Xaréu (Foto: Divulgação) |
Livre da síndrome de querer ser Saint Tropez, ela é mais autêntica e barata do que outras primas ricas do litoral baiano, como Trancoso e Arraial d’Ajuda, por exemplo. Uma cerveja (600 ml) no bar mais badalado da cidade (Favela) sai por R$ 6. Almoço fino em restaurante de bairro nobre (Casa de Taipa) pode custar R$ 17. E nada de feijão com arroz. Foi filé de peixe grelhado com purê de banana da terra, farofa de coco queimado e quiabo ao caril.
Opções também não faltam para quem quer luxo. Que o diga o restaurante/barraca Itacarezinho, que fica na praia de mesmo nome. Lá, a consumação mínima é de R$ 400 por pessoa que queira ocupar um quiosque com cama à beira-mar.
Venha com a gente e conheça uma Itacaré que vai além das ondas, pranchas, tubos e drops. Vale a pena passar, no mínimo, cinco dias.
A Ponta do Xaréu é point para assistir ao pôr do sol: vista do encontro do mar com o Rio de Contas |
Praia da Concha
Perto do Centro e da Pituba, é uma das praias mais movimentadas. Compreende o espaço entre o farol branco retangular e a Ponta do Xaréu. Além de nadar, as águas tranquilas possibilitam a prática de stand up paddle (SUP) e caiaque. Os instrutores Wellington Van Damme e Sheik alugam o equipamento e dão aula por R$ 30 a hora.
Na cabana Ariramba, a Skol (600 ml) sai por R$ 7. Nas barracas, pasme, não ouvi pagode nem arrocha. Na tarde que passei lá, só se tocava Gilberto Gil. No fim do dia, o pôr do sol na Ponta do Xaréu é espetacular. Rola até uma bandinha tocando reggae.
Fazenda Santa Ana
O cacau que sai de lá está entre os 50 melhores do mundo, de acordo com a International Cocoa Awards. O chocolate que eles fazem ganhou selo de excelência do Salon Du Chocolat de Paris. Localizada à margem esquerda do Rio de Contas, perto do limite da Área de Proteção Ambiental Itacaré/Serra Grande, a Fazenda Santa Ana é toda trabalhada na ecologia.
Cercada de Mata Atlântica, abriga plantações de cacau, coco e açaí, que não veem cara de agrotóxico. Há ainda um pequeno laticínio, no qual os bichinhos são tratados à base de homeopatia.
De lá saem manteiga, leite, iogurte e queijos deliciosos. Para passear, há opções de trilhas, com possibilidade de pesca, caiaque, banho de rio/cachoeira e observação de pássaros. O ingresso custa a partir de R$ 60 e inclui almoço e um lanche – tudo orgânico, cultivado na própria fazenda.
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A praia é tranquila, cercada por mata atlântica e, ao norte, tem uma nascente de água doce (Foto:Karlo Dias/Divulgação) |
No caminho, é possível comer a fruta que dá origem ao chocolate e ainda beber o mel de cacau, líquido que fica entre a polpa e a casca, que tem fama de afrodisíaco. Mas não adianta nem querer chegar de galera. O cuidado com o equilíbrio ambiental é tanto que a fazenda só recebe grupos de até 10 pessoas.
“Dá para sentir a diferença quando tem mais gente. Não é possível ouvir o canto dos pássaros e os macaquinhos se escondem”, diz o proprietário, Edgar Morbeck. O trajeto, a partir do centro da cidade, dura uns 40 minutos e tem travessia do rio com barquinho a remo e a própria fazenda indica guias.
Prepare um calçado confortável, passe repelente e protetor solar e, para mais informações, ligue (73) 3613-4908. Ou acesse fazendasantaana.com.br.
Itacarezinho
Itacarezinho está para Itacaré assim como a Praia do Espelho está para Trancoso. Ou seja: é linda, exclusiva, pouco frequentada e a infraestrutura é maravilhosa. Claro que tudo isso tem um preço. Mais precisamente R$ 50 de consumação mínima por pessoa que sentar à mesa e R$ 400 para quem quiser desfrutar de uma das camas à beira-mar.
O acesso à praia é livre. Quem quiser entrar a pé ou de táxi não paga nada para passar pela estrada da fazenda, que é particular. Para quem vai de carro, o estacionamento sai por R$ 30. Mas o espetáculo começa antes dele. Difícil não querer parar no alto da ladeira para admirar o contraste do azul do mar com o verde da mata atlântica.
A praia em si é extensa: tem cerca de 3,5 quilômetros. Em termos de águas mansas, não é nenhum Porto da Barra. Mas dá para tomar banho numa boa, especialmente durante a maré baixa. Na ponta norte, chamada de Camboinha, tem uma pequena cascata de água doce que cai na areia.
Única barraca das redondezas, o restaurante Itacarezinho é um espetáculo à parte. Budas, flores, cabanas e camas compõem a decoração rústica e elegante. Não é difícil atingir a consumação mínima por dois motivos: 1 – é tudo delicioso; 2 – uma cerveja (600 ml) sai por R$ 16, uma caipirosca por R$ 26 (dá para misturar frutas como carambola, morango, cajá, manga, umbu, limão, cacau…).
Da cozinha, comandada pelo chef mineiro Clécio Campos, a prioridade é para ingredientes frescos e locais. Os destaques mais substanciosos são o Camarão Engenhoca (camarão ao creme de abóbora com queijos dentro de um coco verde, arroz de coco e farofa), que custa R$ 63, e o Peixe na Folha de Bananeira (peixe assado com farofa de feijão fradinho e couve, acompanhado por arroz e purê de banana-da-terra), que sai por R$ 51.
Ambos servem uma pessoa. As sobremesas são legais, mas minha dica é, na volta, na estrada, parar no Café Cacau (Km 5,8 da rodovia Ilhéus-Itacaré). O porquê você descobre na parte de Sabores desta reportagem. Para mais informações sobre o Itacarezinho, ligue (73) 3251-2450 ou acesse itacarezinho.com.
Centro Histórico
Para ir ao Centro Histórico é só chegar na Praça dos Cachorros (encontro entre a Pituba e a Passarela) e andar em direção à orla. O cenário é uma mistura da Praia da Coroa e seus barquinhos fofos com algumas casas opulentas e centenárias, da época de ouro do cacau. É a vista da Ponta do Xaréu, onde o sol se esconde no fim da tarde.
Entre as mansões antigas se destacam os Casarões Verde e o Amarelo. O primeiro abriga um albergue. O segundo, um restaurante e um bar/boate. Nas noites de fim de semana, é lá que os locais se divertem. É uma opção menos turística e mais barata do que o tradicional Favela, na Pituba. A trilha sonora varia entre hits do rock e pop e música indie. A taça de vinho sai por R$ 6 e a capirinha por R$ 5. Não há cobrança de ingresso, salvo em festas fechadas.
O jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo de Itacaré.
Correio da Bahia
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