‘Viagra feminino’ é solução simples, mas não vai à raiz do problema, diz especialista

Nathali Raibolt é ginecologista e explica por que é tão difícil elaborar medicamento específico para libido das mulheres

Enquanto o viagra masculino já estrelou entre os remédios mais vendidos do Brasil, a versão feminina está batalhando para chegar às prateleiras das farmácias Foto: Marcelo Theobald / O Globo

Enquanto o Viagra masculino já estrelou entre os remédios mais vendidos do Brasil, a versão feminina está batalhando para chegar às prateleiras das farmácias. Um novo fármaco voltado para a libido feminina, o Vyleesi, acaba de ser aprovado pela FDA , órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos. A ginecologista especializada em sexualidade Nathalie Raibolt explica por que é mais complicado produzir um remédio que cure a falta de libido nas mulheres do que em homens.

É comum mulheres irem ao consultório médico reclamarem de queda na libido?

É uma queixa frequente das mulheres, mesmo antes da menopausa. A gente conhece uma alteração mais frequente pós-menopausa, mas essa queixa é frequente também na pré-menopausa.

O Vyleesi foi idealizado, inicialmente, como um antidepressivo. Por que um medicamento para o cérebro acabou se tornando um remédio para a libido?

A libido envolve a produção de neurotransmissores que funcionam onde esse medicamento atua. A resposta sexual feminina não é dependente apenas dos hormônios, mas também de fatores psicológicos, biológicos e sociais. Por isso aainda se vê a diminuição do desejo, mesmo quando a mulher toma o remédio. Essa queda do desejo também tem a ver com o emocional. O que não quer dizer que seja fruto de uma depressão.

Outras versões de Viagra feminino não venderam tão bem quanto o masculino. Isso é reflexo do machismo?

Não acho que seja. Acho que as mulheres estão interessadas, mas a fisiologia da resposta feminina impede uma medicação que aja de forma tão direta como o medicamento voltado para o paciente masculino. O Viagra masculino age como um vasodilatador no pênis, por isso ele possibilita a ereção sem depender do psicológico do homem. Esse mecanismo, na mulher, não é tão simples assim. Por isso não temos medicação que seja tão assertiva. Esse novo remédio feminino é uma promessa de uma solução. Ele vai resolver o problema de algumas mulheres, mas não vai resolver o problema social nem o hormonal. Farmacologicamente falando, alcançar a libido feminina é mais complexo.

Na ausência de um remédio, quais as indicações que a senhora faz quando as pacientes a procuram por problemas de libido?

Existe menos conhecimento desse processo (da excitação feminina). As pessoas conhecem poucos mecanismos de como levar o seu corpo a ter prazer. Talvez tenha um tabu, que leva à inibição. No consultório, primeiro, fazemos uma avaliação médica para entender se há algum fator orgânico ou clínico. Depois, investigamos se a mulher toma medicações ou antidepressivos que podem estar atuando na queda do desejo sexual. Também vemos fatores relacionais. Quando há um problema relacional grave, a gente não consegue resposta no desejo. E terapia também é muito importante. Queremos abrir a cabeça das mulheres e ver o que está atuando naquela falta de desejo.

Ou seja, a resolução das mulheres é holística enquanto a dos homens é direta e biológica, sem resolver questões psicológicas.

Sim. A gente observa que eles têm a ereção, mas a ansiedade e as questões emocionais que levaram à queda da libido permanecem. E elas são mais difíceis de serem vencida pelos homens, porque eles também sofrem com a necessidade de desempenho. A pressão é grande.

Por Helena Borges, de Agência O Globo

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