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Site público de emprego denuncia fraude em vagas que 'viram' cursos

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Portal Emprega Campinas identificou 50% de anúncios falsos para jovens.
Pai e filha foram vítimas de empresa que usou site para vender cursos.

Alex Lima, proprietário do portal Emprega Campinas, denuncia fraude em vagas (Foto: Carolina Alvarez)

Seja para adolescentes que buscam o primeiro emprego ou para profissionais que tentam chance no mercado de trabalho, a notícia de uma vaga aberta parece ser a salvação em tempos de crise. Mas há empresas divulgando falsos postos de trabalho para tentar vender cursos para os candidatos. A denúncia foi feita pelo portal público Emprega Campinas (SP) ao G1.

“Algumas instituições divulgam vagas com perfil de início de carreira, primeiro emprego, menor aprendiz, estágio, que não exigem muita formação profissional. Prometem salários fora da prática de mercado. Quando as pessoas vão até o local, se deparam com uma instituição que informa que a pessoa precisa concluir um curso para conseguir a vaga, e teria que cursar na própria instituição. É quase uma venda casada, só que a segunda parte da ‘venda’ não existe”, afirma o proprietário do site Alex Lima

“É quase uma venda casada, só que a segunda parte da ‘venda’ não existe”
Alex Lima

O site, que só nos últimos dois meses teve 612.857 usuários cadastrando currículos e consultando vagas das regiões de Campinas e Piracicaba (SP), tem cerca de 24 mil anunciantes. As empresas podem publicar as ofertas de emprego mediante um cadastro gratuito. No entanto, o rastreamento de cada anúncio tem possibilitado a identificação de fraudes pelo portal.

Nos meses de junho e julho, a página recebeu 100 anúncios exclusivos de vagas para menores aprendizes. Destas, 50% foram barradas antes da publicação por se tratar de ofertas falsas. Lima alerta que esse problema pode acontecer em outros portais e redes sociais que divulgam vagas gratuitamente.

“O Emprega tem um filtro para evitar as vagas fraudulentas, uma tecnologia de programação consegue identificar os anúncios. Ninguém contrata 200, 500, 900 pessoas de uma só vez, por exemplo. Fazemos o bloqueio desse usuário”, conta Lima.

Exemplo de anúncio bloqueado pelo Emprega Campinas por informações falsas (Foto: Reprodução / Site)
Exemplo de anúncio bloqueado pelo Emprega Campinas por informações falsas (Foto: Reprodução / Site)

Vítima chegou a pagar curso
No entanto, alguns anúncios acabam “furando” esse bloqueio e derrubando a expectativa dos candidatos. O pizzaiolo Orlando Smirelli e a filha, de 17 anos, foram vítimas de uma das publicações para vagas de jovem aprendiz em Campinas.

“Ficamos alegres no início, depois vimos que era fraude. A mãe dela viu a vaga e inscreveu a menina. Chegou lá e era outra coisa. Falaram que iam arrumar o emprego pra ela, que estava garantido, mas queriam que ela fizesse um curso de R$ 2 mil e pouco pra ela pagar o primeiro emprego dela”, conta o pai.

Patrícia Pereira, mãe da jovem, tinha ligado para a suposta empresa para se informar sobre a vaga e a companhia havia garantido que não era um curso. Mas, a informação errada também fazia parte da fraude.

“Foi um constrangimento muito grande. Me senti iludido. Minha filha chorou muito porque tinha sido enganada”
Orlando Smirelli

“A minha esposa foi lá e disse que tinha ligado. Rasgaram o contrato na nossa frente e devolveram o nosso dinheuiro. Foi um constrangimento muito grande. Me senti iludido. Minha filha chorou muito porque tinha sido enganada. É um absurdo”, desabafa o pai.

Com a devolução do dinheiro, a família considerou o caso resolvido e decidiu não registrar boletim de ocorrência.

No caso dos anúncios falsos que acabam não sendo retidos pelos filtros do portal, o proprietário do site afirma que na página na internet há um caminho para que o candidato denuncie se constatar problema na vaga. Desta forma, segundo ele, é possível evitar futuras publicações das instituições identificadas, ou até mesmo de falsas empresas que podem estar se aproveitando da plataforma.

Outros golpes
Alex Lima alerta que há, também, empresas publicando vagas falsas com um perfil específico para atrair os currículos dos candidatos e, de posse das informações, usam os dados pessoais para enviar propagandas de cursos e outras atividades.

“Fazem uma lista de pessoas potencialmente qualificadas dentro de um perfil, com baixa escolaridade e formação profissional, sem cursos de informática, por exemplo. Eles usam a vaga pra ter contatos para fazer divulgação de cursos próprios. É um perigo, eles ficam com todos os dados das pessoas”, afirma.

Portal de vagas Emprega Campinas (Foto: Reprodução / Site)
Portal Emprega Campinas bloqueia empresas que divulgam vagas falsas(Foto: Reprodução / Site)

Outra prática observada pelo portal é que uma mesma companhia usaria o CPF de terceiros para, após ser bloqueada por publicar vagas falsas, conseguir divulgar novamente no espaço. O site exige CPF no lugar do CNPJ para o cadastro das empresas.

“A gente identificou que bloqueia o anunciante uma vez e depois ele volta, com o mesmo perfil da vaga. E aí, bloqueamos de novo”, diz Lima.

Orientação jurídica
Pra minimizar o problema, o site conta com uma assessoria jurídica que envia para os usuários prejudicados o caminho para recorrer, como o registro de boletim de ocorrência na Polícia Civil contra a empresa que divulgou a vaga, por exemplo.

O portal informou que, no entanto, ele próprio não pode entrar com uma ação judicial contra as empresas por não ser a vítima direta das fraudes nas vagas. Mas, busca constantemente reforçar o sistema de filtragem dos anúncios.

“O site tem reforçado os filtros para evitar que as vagas [falsas] sejam visualizadas pelo público. A gente mantém a credibilidade por meio da orientação que fornecemos aos usuários. Trabalhamos na prevenção”, diz Lima.

“O site tem reforçado os filtros para evitar que as vagas [falsas] sejam visualizadas pelo público”
Alex Lima

Sobre o cadastro de currículos, o site também orienta que os candidatos coloquem somente os dados essenciais, para evitar a exposição de outras informações pessoais.

“Somente o primeiro e o último nome, telefone, de preferência o celular porque tem identificação de chamada. Somente o nome do bairro. Ninguém vai mandar um telegrama com o endereço exato. E um email de contato, exclusivo para enviar currículos e receber contatos”, explica.

Outra dica para observar na escolha da vaga é verificar se as informações que constam no anúncio merecem credibilidade, como salários dentro do esperado pelo mercado. No caso de menor aprendiz, a remuneração média é de cerca R$ 500, afirma Lima.

 

*G1