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Sem filho nos braços, mãe diz que escolheu passar por luto sem dor e sofrimento: ‘meu amor só aumenta’

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Por G1

Bebê nasceu com problemas no coração e sobreviveu por um mês em hospital (Foto: Marcela Albres | Arquivo Pessoal)

Bebê nasceu com 6 tipos de cardiopatia e ficou 31 dias na UTI de hospital. Mãe diz que presenciou outras mortes e se transformou diante a dor.

“Será que ser mãe sem filho é ser mãe?”. O questionamento é somente uma das reflexões que a assessora de imprensa Marcela Albres, de 32 anos, faz diariamente. Esta semana, ela comemorará o Dia das Mães com muita alegria, ao lado da família. O seu bebê, que nasceu com problemas no coração, não estará em seu colo, mas, o amor transborda e ela considera um milagre cada segundo dos 31 dias de vida que passou ao lado do Felipe.

“Acho que aconteceu da forma que deveria ter sido e ele foi uma bênção. A gente, muitas vezes, espera que tudo seja do nosso jeito e depois entendemos a questão da espera. Na verdade, Deus foi nos preparando para o momento de descobrirmos a doença dele. Lembro que estávamos muito mais fortalecidos quando soubemos que ele nasceria com 6 tipos de cardiopatias e precisaria de cirurgias já nos primeiros dias de vida”, afirmou Marcela.

No ano anterior, o mês de maio foi um período cheio de descobertas. “Eu tinha descoberto a gestação e, no Dia das Mães, ainda nem sabia o sexo do bebê. O que sabia é que eu e o Renato [marido] queríamos muito, era algo já planejado. Após 3 anos de casados, nós começamos a investigar o motivo de estar demorando e entendemos o fator de infertilidade conjugal. Nós descobrimos a dificuldade e os médicos disseram que, se acontecesse, seria pelas mãos de Deus”, relembrou.

Marcela diz que amor por Felipe só aumenta (Foto: Marcela Albres | Arquivo Pessoal)

Após um período, o pequeno veio. “Eu sabia que a gravidez tinha sido uma bênção de Deus e, por isso, acho que estava muito mais fortalecida, até para entender e ficar sabendo da doença com mais serenidade. A medicina explicava que a cardiopatia dele poderia ser casos hereditários, de diabete, mas, nenhum desses nós tínhamos. No início, o medo foi grande porém eu não fiquei desesperada em hora nenhuma”, disse.

Conversas e procura por profissionais de referência levaram Marcela até um hospital, em São Paulo. “Tivemos momentos muito tensos lá e a previsão era de que ele poderia morrer, a qualquer momento. Mas ali posso dizer que vivi os momentos mais felizes da minha vida, sentia a presença de Deus o tempo inteiro e acho que foi isto que fez ele ficar estes 31 dias com a gente. Já no 3° dia de vida, ele enfrentou a primeira cirurgia. Foram 10 horas para o médico fazer as correções necessárias, mas, o coração tinha ficado muito fraco”, explicou.

Neste período, havia um revezamento no hospital entre Marcela, o marido e a mãe dela. “Eles tentaram desligar a máquina, quando uma segunda que fazia a circulação extracorpórea e todo o papel do coração e do pulmão teve de ser usada. Desde o início, ele ficou na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] humanizada, então nós estávamos ali ao lado do nosso filho que teve sangramentos, infecções hospitalares e muito inchaço”, argumentou a mãe.

No último dia, Marcela conta que acordou sabendo da despedida de Felipe e então avisou ao marido: “Ele ficava durante a madrugada e eu de dia. Quando cheguei no hospital, falei para ele se despedir do filho. Ele não queria, resistiu, mas eu disse dá um beijo nele porque eu farei isto também. Foi muito difícil ver ele com o peitinho aberto, aquela densidade de medicações…porém eu cantava, conversava e rezava com ele”, falou emocionada.

Um das expressões de uma das médicas foi de que “Felipe, infelizmente, estava escorrendo pelo vão dos dedos” e uma última tentativa seria colocá-lo em outra máquina de adulto. “Naquela noite, ele ficou a primeira vez sem a nossa presença. Estava realmente difícil vê-lo daquela forma e ninguém conseguia dormir. Por volta das 2h, tocou o meu telefone. O toque do despertador e das ligações era igual, mas, eu sabia que era para atender. Eles pediram para retornar porque ele tinha piorado”, relembrou.

A notícia era do falecimento do bebê, aos 31 dias. “Nós voltamos para a casa de uma tia onde estávamos hospedados. Eu doei parte do enxoval para uma prima que também estava grávida e trouxe o restante das coisas. O corpo veio para Campo Grande e, no velório e enterro, muitas pessoas perceberam o quanto eu estava serena. Na verdade, aquilo ali nem tinha mais significado para mim. A despedida aconteceu lá no hospital e ele já estava com Deus, por isso a minha paz a todo momento. Nós lutamos tudo, demos todo o amor que ele merecia”, falou, novamente emocionada.

Esta semana, já são cinco meses sem o bebê. “A dor da perda não é nada perto do amor que ficou e é isto que me sustenta. Eu sempre procurei ser uma pessoa otimista, de valorizar o que é bom…não penso o que perdi, penso o que ganhei em relação ao meu casamento, a minha espiritualidade, a minha forma de enxergar a vida…no hospital, eu também convivi com muitas muitas outras famílias e foram 30 mortes de bebês cardiopatas por dia. O problema estava também ao nosso lado e criamos muitos laços de amizade”, disse.

Desta forma, a “rede de amor” somente foi crescendo e Marcela mantém o contato com as mães na rede social. “Eu escrevo, compartilho meus textos e muitas mães falam comigo. Eu sei o quanto é difícil retomar a rotina, mas, eu escolho a minha vida. Vou comemorar sim o meu Dia das Mães, de um filho que transformou a minha vida. E esse amor é um amor livre, que só aumenta. Ele continua vivo em mim e eu me sinto uma pessoa muito melhor graças ao Felipe e a morte dele. Eu escolhi passar por este luto sem sofrimento e dor”, finalizou.

Local onde Felipe foi sepultado em Campo Grande (Foto: Marcela Albres | Arquivo Pessoal)