Pedros, celulares, coincidência e Coliseu

Em frente a sua casa está ‘Seu Pedro’, no alto dos 50 anos está sentado numa cadeira desgastada, a madeira com uma cor incorreta, uniforme, claramente desbotada pelo sol já tomado, mais sem perder a firmeza pois “os móveis de antigamente eram de madeira de verdade”, essa como a maior parte das coisas de sua casa estiveram em mas de uma residência, em cidade pequena não há desperdício. Duas ou três pessoas passam e o cumprimentam, no que é respondido com um breve acenar de cabeça quase sem força, na verdade não é falta de força, é que a hora do repouso é sagrada. Se fôssemos listar quantas adversidades ‘Seu Pedro’ já viveu perceberíamos que ele é mais forte que muitos “de hoje em dia”, mesmo sem entender de política às vezes ele pensa que aqui deve ser diferente de outros lugares, talvez não haja dinheiro, por isso não há o básico. Sua cidade é Alto Santo, localizada na microrregião do Baixo Jaguaribe, apesar de não entender muito bem o que significa, o que ele sabe é que ali é um lugar pequeno, “duns vinte mil habitante”.

Pedro vive a aproximadamente 11 mil quilômetros distante de Alto Santo, mesmo com 28 anos, não sendo mais um adolescente, sua maior preocupação no momento é o lançamento de um novo celular de uma série famosa, como trabalha o dia todo numa gráfica ficará difícil ir para a fila que se formará de madrugada em frente à loja, ele tem um dos salários mais baixos da região, ganha em média uns 1.700 euros por mês, o que dá para manter seu carro do ano, comprar qualquer produto tecnológico; livros; roupas; lanches e uma vez por semana ir para um bom lugar para passear e se divertir, não é a vida dos sonhos, mas as outras preocupações (como o lançamento do novo celular) o incomodam mais que seu salário. Mesmo porque recentemente ingressou na Universidade para cursar Design Gráfico e certamente terá um retorno em um futuro próximo. Pedro não sabe mais tem algumas coisas que o conectam a uma cidadezinha pequena de um país distante dali que provavelmente ele nunca irá (pois não gosta muito de viajar e se fosse seu estilo, certamente o Brasil não estaria entre as primeiras opções, não pela natureza mais por outros fatores como a criminalidade.)

 Está no horário de almoço, e Pedro caminha para um restaurante que fica no Centro da sua cidade, ao seu lado passa um homem de meia idade, muito bem vestido, sorridente com um panfleto da mesma loja de eletrônicos que Pedro irá no dia seguinte, que acabará de receber de uma belíssima vendedora, ele é um dos políticos mais influentes de Alto Santo, no momento está no seu segundo mês de férias, em um tour pela Europa, mais que merecido pois esse ano participou de demasiadas seções políticas, especialmente pela ‘grande obra’ da cidade, esteve em uns 40% das seções, o que o torna um dos políticos mais participativos da cidade, quiçá do Brasil, agora passeia pela excelente cidade de Roma. De quebra ainda levará esse Smarthphone que custará cinco vezes menos do que no Brasil.

Pedro chega naquele que é um dos seus restaurantes favoritos, aquelas cadeiras ao céu aberto, as calçadas em pedra, conhecidas no mundo como “Estradas Romanas” mesmo depois de tanto tempo ainda o encantam, sem perguntar o garçom anota o pedido, seu prato favorito.

Seu Pedro continua sentado em Alto Santo, a tranquilidade é interrompida por sua esposa, mas por uma boa razão, em sua mão ela traz a ‘melhor comida do mundo’, ele se sente abençoado por poder ter essa refeição num lugar de tanta dificuldade.

Pedro e Seu Pedro sentados olham para frente e veem felizes a mesmas coisa; “O Coliseu” e o que os separa são 1936 anos.

Alex Freire

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