Paulo Betti compara goleiro do Palmeiras com Bruno e é detonado na web
Para os palmeirenses, o domingo foi de muita comemoração após a vitória do Palmeiras sobre o Flamengo na final da Taça Libertadores da América 2021. A conquista do Tricampeonato pelo Verdão rendeu muitos vídeos e comentários, mas nem todos foram positivos. O ator Paulo Betti, por exemplo, vem sendo criticado após ofender o goleiro Weverton em seu Twitter.
Em entrevista após a partida, o atleta, que é cristão, agradeceu a Deus pela vitória. “Foi duro, foi difícil, esta foi nossa quarta final no ano, não ganhamos nenhum campeonato, mas quero dizer hoje que Deus fez coisas grandiosas por nós. Deus tem sido tão bom com a gente mesmo nas derrotas, porque Ele tem nos ensinado. Hoje, diante de tanta dificuldade, diante de um grande adversário, de um grande jogo, Deus nos agraciou com essa conquista para que não fique dúvida do quanto Ele é bom”.
O ator Paulo Betti não gostou nada dessa declaração e fez um infeliz e preconceituoso comentário sobre a postura de Weverton. “O discurso do goleiro do Palmeiras depois do jogo, aquela falação sobre Deus quando devia estar comemorando, aquela cena dele rezando antes de começar o jogo, me fez lembrar do goleiro Bruno, que rezava no maraca e depois ia matar a moça e jogar para os cães. Explica muito o Brasil”, escreveu.
Tentativa de lacração mal-sucedida
Internautas ficaram indignados com a fala de Betti e o criticaram. Após a grande repercussão negativa, ele deletou a postagem. Mas, como todos sabem, na internet, os prints servem como provas.
Para o historiador Danilo Cavalcante, o comentário expressa uma profunda intolerância religiosa. Vale lembrar que todo cidadão brasileiro, como previsto na Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, VI) tem direito à liberdade religiosa, de manifestar publicamente as suas crenças.
“Ao diminuir as palavras de gratidão do Weverton à mera ‘falação sobre Deus’, o ator deixa evidente uma profunda aversão não apenas à fé do goleiro, mas também à sua liberdade de professá-la em público. E já que perguntar (ainda) não ofende, arrisco: e se fosse o contrário? Paulinho, jogador do Bayer Leverkusen, que é candomblecista e, publicamente, enaltece a religião de matriz africana e seus orixás – inclusive, já foi condecorado pelo combate à intolerância religiosa. Há algum problema dele fazer isso? Óbvio que não. No entanto, vemos duas formas distintas de tratar o mesmo ato”, observa o especialista.
Além disso, o post malicioso induz o leitor ao ódio quando compara Weverton com ex-goleiro Bruno, acusado de assassinar a modelo Eliza Samudio. “O comentário segue uma lógica falaciosa. Levando ao extremo, seria como dizer que ‘Hitler bebia água, fulano também bebe, logo, fulano é nazista’. Betti segue a mesma estrutura ao comparar Weverton, o marido e pai de família, a Bruno, o assassino da mãe do seu próprio filho. Seu comentário é covarde, assim como praticamente todos os ‘cancelamentos’ feitos até hoje no tribunal da internet”, acrescenta Cavalcante.
Cancelamentos desenfreados
Nos últimos tempos, a tal “cultura do cancelamento” tem dominado a internet. Quem se posiciona e tem visões contrárias a algumas agendas é duramente criticado, ofendido e humilhado.
As pessoas estão sendo canceladas por bobagens, por edições mal-intencionadas de suas falas, por notícias falsas, e por aí vai. Estamos vivendo uma época em que pensar diferente do outro soa como ofensa. Só que o curioso é que ao mesmo tempo que o lado do “cancelador” tenta promover que “somos todos iguais”, que “o amor sempre vence” etc, não age assim, na prática.
“Há uma tentativa de ‘cancelar’ por hipótese, sem certeza; de pôr em descrédito uma figura pública não por aquilo que ela é, mas por aquilo que a mente do ‘cancelador’ sugere que talvez seja”, pontua o historiador Danilo Cavalcante.
De fato, apesar de Betti ter feito uma ofensa grave, duvido que acontecerá com ele o que aconteceu com o agora ex-jogador de vôlei da seleção brasileira, Maurício Souza, que perdeu sua carreira apenas por expressar que não concordava com o anúncio da bissexualidade do personagem Super-Homem e por criticar a implementação da linguagem neutra em uma novela.
Não desejo o mal para o ator, apenas que reflita sobre o ato preconceituoso e intolerante. Sua atitude deixou muito claro como funciona o tribunal da internet, que julga e cancela alguns e “passa pano” para outros.
É a máxima: “um peso, duas medidas” sendo colocada em prática e como bem alertou Cavalcante: “a postagem do Paulo Betti explica – e muito – o autoritarismo que governa a mente de um ‘cancelador'”.
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