Morre Dolores O’Riordan, vocalista do The Cranberries
A cantora morreu de maneira repentina aos 46 anos, de acordo com a televisão irlandesa
Dolores O’Riordan, a inconfundível voz de The Cranberries, uma das bandas de maior sucesso nos anos 90, morreu nesta segunda-feira aos 46 anos de forma repentina, segundo informou em um comunicado o representante da banda irlandesa, que não especificou a causa da morte. A artista, intérprete de sucessos como Linger e Zombie, se encontrava em Londres gravando.
“A líder da banda irlandesa The Cranberries estava em Londres em uma breve sessão de gravação”, afirmou o representante do grupo em um comunicado sem mais detalhes. “A família [de Dolores O’Riordan] está arrasada com a notícia e pediu privacidade neste momento tão difícil”, acrescentou.
Um comunicado da polícia confirmou a informação e acrescentou que o corpo de O’Riordan foi encontrado no hotel Park Lane da capital britânica às 9h05.
bye bye Gio. We're off to Ireland 🍀 pic.twitter.com/d6HKOFJqGB
— Dolores O'Riordan (@DolORiordan) January 4, 2018
“Estamos partindo para a Irlanda: trevo de quatro folhas”
Nascida em Limerick em 1971, O’Riordan era a mais nova de sete irmãos e foi educada no catolicismo. Dolores devia seu nome à profunda fé católica de sua mãe. Ela não era praticante, mas se declarou admiradora do papa João Paulo II, a quem visitou com a mãe no Vaticano.
We are crushed to hear the news about the passing of Dolores O’Riordan. Our thoughts go out to her family at this terrible time. https://t.co/6p20QD2Ii5 pic.twitter.com/vXscj0VGHS
— Duran Duran (@duranduran) January 15, 2018
“Estamos arrasados ao ouvir as notícias sobre o falecimento de Dolores O’Riordan. Nossos pensamentos vão para a família dela neste momento”.
O’Riordan se uniu a The Cranberries em 1990 (então chamados de The Cranberry Saw Us), com o guitarrista Noel Hogan, o baixista Mike Hogan e o baterista Fegal Lawler. Seu salto à fama chegou com o álbum de estreia, Everybody else is doing it, so why can’t we? (1993), que incluía a canção Linger, sobre a rejeição e as frustrações do desamor adolescente, que se transformou em seu primeiro sucesso mundial.
I once met Delores O’Riordan when I was 15. She was kind and lovely, I got her autograph on my train ticket and it made my day. She had the most amazing voice and presence. So sorry to hear that she’s passed away today x
— James Corden (@JKCorden) January 15, 2018
“Encontrei certa vez Delores O’Riordan quando eu tinha 15 anos. Ela foi gentil e adorável. Peguei seu autógrafo em minha passagem de trem e com isso ganhei o dia. Ela tinha a maisincrível voz e presença. Muito triste por ouvir que ela faleceu hoje”.
“Quando era adolescente, não me sentia atraente, minha mãe não me deixava usar maquiagem”, explicou O’Riordan em uma entrevista ao The Guardian no ano passado. “Era uma menina estranha, superprotegida, com um vestido rosa de flores e laços na cabeça, que tocava órgão na igreja. Minha mãe me comprava as roupas, então, na minha primeira sessão de fotos com The Cranberries, Noel me trouxe um novo look e me deu um par de botas Doc Martens. Ficavam grandes, mas mesmo assim as coloquei. De repente, parecia uma garota indie”.
Seu disco seguinte, No Need to Argue, lançado um ano depois, superou o sucesso do primeiro e permitiu que a banda fizesse novos registros e que O’Riordan mostrasse todo o potencial de sua voz. Torturada e excessiva, mas sempre comovente, a voz de O’Riordan atingiu o auge em Zombie, single cantado por milhões de jovens na década de noventa, escrita na sequência do atentado do IRA em Warrington, que matou duas crianças, de três e 12 anos.
No Need to Argue vendeu 17 milhões de cópias em todo o mundo e fez do The Cranberries uma das maiores bandas que surgiram no contexto do então chamado rock alternativo. Graças em boa medida à voz de O’Riordan, impetuosa, sinuosa e libérrima, a banda irlandesa introduziu essa combinação de fúria e doçura que caracterizou muitas bandas de certo rock alternativo dos anos noventa.
Depois de mais três álbuns de estúdio, os Cranberries pararam, mas voltaram em 2009 com o objetivo inicial de atuar apenas ao vivo. Finalmente, lançaram mais dois álbuns, o último dos quais, Something Else, uma coleção de versões acústicas e três músicas novas, foi lançado no ano passado. Enquanto isso, O’Riordan lançou dois álbuns solo (Are You Listening?, 2007; No Baggage, 2009).
Em 2017, a banda anunciou uma turnê com shows na Europa e nos Estados Unidos. Pouco depois de começar as primeiras datas europeias, a turnê foi suspensa por problemas de saúde de O’Riordan. O site oficial da artista atribuiu o cancelamento a “razões médicas associadas a um problema nas costas”. Pouco antes do Natal, O’Riordan fez uma postagem em seu perfil do Facebook na qual dizia estar bem e que havia feito seus “primeiros pequenos shows em meses”.
“Olá a todos. Aqui, Dolores. Eu me sinto bem”, escreveu também a vocalista no Twitter. Seu último tuíte, datado de 4 de janeiro, é uma foto na qual segura um gato nos braços, com a mensagem: “Adeus, Gio. Vamos para a Irlanda”.
Ontem, muitos músicos quiseram homenagear a artista. Sua voz, escreveu o popular cantor irlandês Hozier, “questionou como uma voz pode soar no contexto do rock, nunca vi ninguém usar seu instrumento assim”.
O’Riordan sofria de transtorno bipolar. Deixa três filhos, que teve com Don Burton, ex-empresário do Duran Duran, com quem rompeu em 2014, depois de 20 anos de casamento. *Por El Pais