Filho de lavradores e quilombola, João será médico do seu povoado
Quilombola, filho de lavradores, nascido e criado na roça… Médico.
Quilombola, filho de lavradores, nascido e criado na roça… Médico. João Costa é uma razão para acreditar que as adversidades são passageiras quando não falta empenho e dedicação para superá-las.
Ele acaba de concluir a faculdade de Medicina e será o novo médico do Povoado Sítio Alto, em Simão Dias, no Sergipe. A formatura aconteceu no dia 28 de agosto, na primeira turma de Medicina do campus de Lagarto da Universidade Federal do Sergipe (UFS), informou o site Lagartense.
“Negro, quilombola, filho de lavradores, nascido e criado na roça, filho do meio e integrante de uma família humilde composta por 11 irmãos e rodeada pela pobreza, chego ao fim de uma enorme batalha!”, declarou João.
Desde muito novo, ele sabia que a única forma de melhorar a condição de vida dele e de sua família era através dos estudos. João provou que é possível realizar sonhos que não cabem no “paradigma que era comum onde eu morava (trabalhar na roça para prover o sustento) e me aventurar no mundo da educação e do conhecimento”.
Filho de pais analfabetos, ele teve uma infância difícil, pois faltavam itens básicos, como roupas e alimentos. Entrar para uma universidade federal, então, era quase uma utopia. No melhor dos cenários, ele chegaria ao ensino médio.
João dividia seu tempo entre o trabalho na lavoura e os estudos. Com as notas boas que tirava na escola, o sonho de proporcionar uma vida melhor à família ganhava força.
“Me destacava cada vez mais na escola, porque sabia que a única opção para uma ascensão social e financeira era por meio dos estudos”, lembra ele.
Aprovado com louvor no ensino fundamental e médio, ele conseguiu o primeiro emprego no 3º ano do ensino médio – antes ele só tinha trabalhado com pais na roça. Era um trabalho de meio período na Promotoria de Justiça de Simão Dias.
Mas, João não queria parar por ali. O sonho dele era entrar na universidade, e para isso teve que lutar contra a inveja e o preconceito.
“Muitas vezes me questionava se seria possível, se eu era capaz. Recebi muitos comentários desencorajadores, de pessoas próximas inclusive, pelo fato de ser uma pessoa pobre, vindo da roça, negro e proveniente de escola pública. Conseguir curar Medicina? Muitos consideraram improvável! Mas, Deus e o destino foram maravilhosos comigo.”
Aos 17 anos, João passou em terceiro lugar no curso de Medicina da Universidade Federal do Sergipe, campus Lagarto. Foram seis longos anos de estudo, superando uma dificuldade atrás da outra, “já que o sustento [da família] ainda é provido pelo trabalho na roça e por benefícios sociais de distribuição de renda”.
Nesse período, o estudante recebeu o benefício do programa de residência universitária disponibilizado pela UFS e uma bolsa permanência disponibilizada pelo MEC.
Às vésperas da colação de grau, o novo médico de Sítio Alto tem um conselho para dar:
“No pouco que vivi aprendi que quando as dificuldades baterem na sua porta deixe-as entrar! Nada melhor que os desafios para instigar a evolução humana. Acredito que se eu não tivesse tantas dificuldades não estaria me graduando em Medicina, curso ainda elitizado e estereotipado em nossa sociedade.”
crédito das fotos: João Costa/Arquivo pessoal
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