Febre do Nilo em cavalos e produtor rural
A Febre do Nilo foi identificada pela primeira vez em 1937 no Egito, região ao norte de Uganda, às margens do Rio Nilo. O vírus foi isolado no sangue de uma paciente febril de 37 anos que habitava a cidade de Omongo, uma província do norte de Uganda. Portanto, o local do isolamento deu origem ao nome do vírus West NileVirus. É uma doença causada por um vírus do gênero Flavivirus, da família Flaviviridae, assim como os vírus da Dengue e da Febre Amarela.
A Febre do Nilo é uma virose de transmissão vetorial, ou seja, há necessidade de um vetor, o mosquito. O vírus pode infectar aves, humanos, cavalos e outros mamíferos. Sendo assim, é considerada uma zoonose.
O principal reservatório e hospedeiro amplificador do vírus são algumas espécies de aves silvestres, pois sua disseminação vem ocorrendo devido ao processo de migração característico de aves que se deslocam para outras regiões do mundo. As aves são hospedeiros naturais e podem ou não apresentar sintomatologia clínica. Já os humanos e os cavalos são hospedeiros acidentais, que não participam da transmissão subsequente da doença, pois o vírus não alcança viremia suficiente para ser transmitido ao vetor.
Outras formas mais raras de transmissão já foram relatadas e incluem transfusão sanguínea, transplante de órgãos, aleitamento materno e transmissão transplacentária. A contaminação por contato direto já foi demonstrada em laboratório para algumas espécies de aves, mas não há casos de pessoa para pessoa, nem de cavalo para cavalo.
A vigilância para detecção do vírus já existe desde 1999 na América Central e em alguns países da América do Sul, quando o micro-organismo foi identificado nos Estados Unidos. No Brasil, a partir de 2003, o Ministério da Saúde incluiu a Febre do Nilo Ocidental na Lista Nacional de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Em 2011, o vírus foi encontrado nas regiões amazônica e do pantanal. Países como Colômbia e Venezuela já haviam apresentado evidências da passagem de ameaças no continente.
No estado do Espírito Santo, seis notificações de mortalidade de equídeos por síndromes neurológicas nos municípios de Baixo Guandu, Nova Venécia, Boa Esperança e São Mateus estavam sob suspeita da ocorrência da Febre do Nilo. Mas, apenas uma coleta indicou caso positivo para o vírus em questão. Em 2017, foram 25 notificações em todo o Estado, porém nenhuma com diagnóstico dessa doença. No dia 08 de junho, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) expediu nota técnica confirmando a presença da doença no Brasil e recomendando que seja intensificada a vigilância para detecção de animais com sintomas.
No entanto, o Ministério da Saúde já havia confirmado o primeiro caso de Febre do Nilo Ocidental (FNO) em um trabalhador rural do estado do Piauí em 2014. O paciente apresentou encefalite e foi notificado como caso suspeito. A doença foi confirmada após a realização de dois exames sorológicos com reagente para o vírus do Nilo Ocidental-VNO (IH e ELISA). Como é uma infecção viral, ela pode surgir sem ou com diferentes sintomas e graus de gravidade, que variam desde febre e dor muscular até encefalite grave. As formas graves ocorrem com maior frequência em idosos. Assim como dengue, zica e chikungunya, o vírus da Febre do Nilo Ocidental pode causar manifestações neurológicas como encefalite, meningite, síndrome de Guillan-Barré, entre outras.
Em equinos, os sintomas são: febre, incoordenação motora, perda de apetite, cegueira, cabeça baixa, fraqueza muscular, paralisia parcial e convulsões.
O diagnóstico definitivo deve excluir outras doenças neurológicas, como a raiva. Para o diagnóstico laboratorial as técnicas recomendadas são: o isolamento viral, a imunofluorescência direta, o ELISA, o teste de neutralização por redução de placas e as técnicas de biologia molecular (RT-PCR e seqüenciamento). O material a ser enviado ao laboratório, no caso da doença em animais que foram a óbito, é o SNC (Sistema Nervoso Central) de equinos, sangue, cérebro, fígado e baço das aves. No caso da pesquisa de anticorpos, o soro é o material de eleição. Quanto ao tratamento, propõe-se o suporte com hospitalização, fluidos intravenosos, suporte respiratório e prevenção de infecções secundárias.
A segunda maior avifauna do planeta está no Brasil. Aqui chegam centenas de espécies de aves migratórias do Hemisfério Norte – onde o vírus tem sido isolado com frequência – e há grande diversidade de espécies de vetores. A entrada e a manutenção do vírus na região estão favorecidas.
O controle da FNO é realizado, atualmente, por meio da vacinação dos susceptíveis e do controle de vetores. Novas vacinas estão em teste no exterior, além de vírus vivo modificado e inativado. No Brasil ainda não há vacinas.
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