Ex-Vitória, Elkeson pode se naturalizar para defender seleção chinesa

Foto: Divulgação | Shanghai SIPG

A China não ficou satisfeita em somente contratar jogadores e técnicos brasileiros. O país mais populoso do mundo quer mais. Com a ajuda do governo do presidente Xi Jinping, dos clubes e da federação de futebol nacional, cinco atacantes brasileiros estão nos trâmites finais para obter a nacionalidade chinesa. Entre eles, o atacante Elkeson, revelado pelo Vitória em 2009 – atualmente no Guangzhou Evergrande -, que pode, ainda neste ano, defender a seleção pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.

Além de Elkeson, os brasileiros próximos da seleção chinesa devem ser Ricardo Goulart, também do Guangzhou Evergrande, Alan, do Tianjin Tianhai, Aloísio, do Guangdong Tigers, e Fernandinho, do Hebei Fortune. Todos estão à espera dos documentos da naturalização, já encaminhados aos órgãos competentes. O quinteto foi procurado pelo Estado, mas, por determinação do governo chinês, nenhum deles pode dar entrevista enquanto não finalizar o processo.

É a primeira vez na história que a seleção asiática se abre para estrangeiros. Apegada ao patriotismo e tradição milenares, os chineses mudaram de postura a partir deste ano pela meta de voltar a disputar uma Copa. A única participação em Mundiais foi em 2002. Na ocasião, chegou a enfrentar o Brasil em uma campanha pífia. Foram três derrotas, nove gols sofridos e nenhum marcado.

A seleção chinesa começou a se reforçar pelo processo mais fácil. Os dirigentes vasculharam os jogadores estrangeiros da liga local e encontraram um norueguês e um inglês cujas mães eram chinesas. O laço familiar facilitou a obtenção do passaporte e o meia londrino Nico Yennaris já até estreou pelo seu “novo país” em junho.

Depois, o plano chinês seguiu para a parte mais ousada. O técnico italiano Marcello Lippi, campeão do mundo em 2006, com a Itália, reassumiu a seleção chinesa em maio e pediu mais jogadores “importados”. Como a Fifa exige que o atleta tenha no mínimo cinco anos de residência no país para ser naturalizado, a federação agiu rápido e buscou os brasileiros de destaque.

Defender a China vai exigir sacrifícios. O quinteto precisará aprender a cantar o hino, terá aulas sobre história e cultura, precisará renunciar à nacionalidade brasileira e terá de adquirir um nome chinês. O inglês Yennaris, por exemplo, virou Li Ke. Elkeson deve ser chamado de Ai Jisen.

Ricardo Goulart deixou o Palmeiras em maio depois de quatro meses no clube para voltar ao Evergrande motivado por um novo contrato e pelas vantagens criadas com a naturalização. Os clubes chineses ganham com a mudança por eles deixarem de ter um estrangeiro no elenco. Cada time pode ter até seis jogadores de outro país.

Mercado

A mudança de nacionalidade contribui ainda para outras ligas da Ásia. Alguns campeonatos do continente consideram atletas chineses não como estrangeiros, mas dentro de uma cota extra permitida de reforços no mercado asiático. Por isso, ao adotar a nova bandeira os brasileiros se tornam mais cobiçados na região.

Com cerca de 20 anos de atuação no mercado internacional, o agente de jogadores Marcelo Robalinho avalia que mesmo com a burocracia para se naturalizar chinês, optar por defender a seleção pode valer a pena. “Jogar pela China é uma decisão que depende do planejamento de carreira para quem não tem possibilidade de defender a seleção brasileira. Vai abrir chance para outra experiência de vida e dá mais oportunidade de prolongar a carreira na Ásia”, disse.

O pacote de “importações” de jogadores deve abranger também um peruano e um espanhol. O governo chinês quer transformar o país em uma potência no futebol até 2050, quando pretende ter mais de 50 milhões de praticantes da modalidade e 20 mil centros de treinamento.

O atual auxiliar técnico do Vasco, Maurício Copertino, trabalhou na China como jogador e, anos depois, como treinador. Na opinião dele, para a seleção local crescer, será necessário não só incorporar estrangeiros ao time, mas principalmente desenvolver um estilo de jogo próprio.

“A China trouxe muitos treinadores estrangeiros, mas não criou uma metodologia local. Os chineses ficam preocupados em copiar estilos, mas esquecem suas origens. Isso atrapalha. Não adianta colocar a seleção chinesa para fazer o tiki-taka espanhol de Guardiola. Eles não vão conseguir”, disse o ex-zagueiro.

Pelo menos para Copertino, os reforços brasileiros vão ajudar a seleção chinesa. “Você não consegue desenvolver o talento de um jogador. Isso é de nascença. Na China, isso falta um pouco. No Brasil, sobra.”

Renúncia

A principal etapa dos brasileiros para se naturalizarem envolve o Itamaraty. Como a China não aceita dupla nacionalidade, os atletas escolhidos precisam entrar com processo para renunciar à cidadania brasileira. Só depois disso eles recebem os documentos de cidadãos chineses.

No futuro, quando voltar, o quinteto poderá readquirir a nacionalidade brasileira a partir do processo inverso. Será preciso renunciar ao posto de cidadão chinês e novamente abrir no Itamaraty processo para pedir a recuperação da cidadania.

A burocracia para se tornar chinês tem impacto também em questões fiscais. É preciso, por exemplo, atender exigências da legislação brasileira para contas bancárias abertas em nome de estrangeiros, assim como atualizar possíveis registros de imóveis e de sociedade em empresas. “Chineses”, os jogadores podem entrar no Brasil para visitar seus familiares, porém vão precisar do visto de turista. Filhos e mulheres podem manter o passaporte brasileiro.

Com informações do A tarde

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