Em cúpula sul-americana, Lula propõe moeda única e uso do BNDES

Durante o discurso aos presidentes sul-americanos, no Palácio Itamaraty, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre propostas a serem levadas para discussão durante a cúpula. Entre elas, a criação de moeda única, já defendida pelo petista, e o uso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com informações do Metrópoles | Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Ao iniciar a fala, o mandatário brasileiro relembrou o protagonismo que a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) teve na integração dos países da América do Sul e a importância de organismos como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

“A América do Sul tem diante de si, mais uma vez, a oportunidade de trilhar o caminho da união. E não preciso recomeçar do zero. A Unasul é um patrimônio coletivo. Lembremos que ela está em vigor, sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção, mas ao fazê-lo, é essencial avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta transições”, disse.

Lula, no entanto, ponderou que novas iniciativas precisam ser tomadas para ampliar a atividade da reunião de países.

“Seria um erro restringir as atividades às esferas de governo. Envolver a sociedade civil, sindicatos, empresários, acadêmicos e parlamentares dará consistência ao nosso esforço. Ou os processos são construídos de baixo para cima ou não são viáveis e estarão fadados ao fracasso”, disse o petista.

Veja a seguir as propostas sugeridas por Lula aos chefes de Estado:

Colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento, como CAF [Corporación Andina de Fomento], Fonplata [Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata], Banco do Sul e BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social];
Aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismos de compensação mais eficientes e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais;
Implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens;
Ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência;
Atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), reforçando a multimodalidade e priorizando os de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira;
Desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima;
Reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, que nos permitirá adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer nosso complexo industrial da saúde e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas;
Lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia que assegure o suprimento, a eficiência do uso de nossos recursos, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental;
Criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, algo que foi tão importante na consolidação da União Europeia;
Retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria militar, de doutrina e políticas de defesa;
Criação de um Grupo de Alto Nível, a ser integrado por representantes pessoais de cada presidente, para dar seguimento ao trabalho de reflexão. Com base nas decisões tomadas na cúpula, o grupo terá 120 dias para apresentar um mapa do caminho para a integração da América do Sul.

Além de Lula, 10 chefes de Estado participam da programação. A única ausência é da presidente do Peru, Dina Boluarte, impossibilitada de deixar o país por motivos internos. Veja os nomes:

Alberto Fernández (Argentina)
Luís Arce (Bolívia)
Gabriel Boric (Chile)
Gustavo Petro (Colômbia)
Guillermo Lasso (Equador)
Irfaan Ali (Guiana)
Mário Abdo Benítez (Paraguai)
Chan Santokhi (Suriname)
Luís Lacalle Pou (Uruguai)
Nicolás Maduro (Venezuela)
Alberto Otárola, presidente do Conselho de Ministros (Peru)

Segundo o Itamaraty, a proposta do encontro é promover um diálogo franco entre os líderes, com o objetivo de identificar denominadores comuns, discutir perspectivas para a região e reativar a agenda de cooperação sul-americana em áreas-chave.

São elas: saúde, mudanças climáticas, defesa, combate aos ilícitos transnacionais, infraestrutura e energia, entre outros.

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