Dia dos Pais: conheça a história de um pai solteiro que cria filha sem a mãe
Por Brenda Ferreira / Bocão News | Fotos: Vagner Souza / Bocão News
Em meio a diversos movimentos de pais que buscam a guarda compartilhada dos filhos os dados dos últimos 12 anos do IBGE apontam para um cenário de mudanças ainda pequenas diante da compreensão contemporânea que estabelece que para a criança a criação é função do pai e da mãe.
Entre 2003 e 2015, ano do último levantamento, o número de pais que ficam com a guarda dos filhos sozinhos caiu. Já o número da guarda compartilhada aumentou, mas segundo o instituto, na Bahia esse número é ainda pequeno e, em Salvador, menor ainda.
Na estado, de 7.318 casais, 363 pais ficam com a guarda dos filhos, contra 5.630 das mães. Já em Salvador, de um total de 2.086 casais, apenas 101 pais ficam com a guarda dos filhos, contra 1.477 mães. Essa medida foi adotada em menos de um em cada dez casos de divórcio com filhos menores (9,64%).
Segundo o IBGE, é um percentual baixo e coloca a capital baiana como 6ª colocada, com menor percentual de guarda compartilhada.
Desde 2014, esta guarda é considerada a divisão padrão em casos de pai e mãe que não moram na mesma casa, a não ser que um dos dois não possa ou não queira ter a guarda. Este foi o caso de Manoel Luís Ramos, 43 anos, pai de Maria Luísa Ramos, 12.
A reportagem do BNews foi recebida na casa de Manoel, onde ele contou sua história, sua relação e sua rotina com a filha que chama carinhosamente de ‘Malu’. Os pais de Maria Luísa se separaram quando ela tinha um ano de idade, mas morou com a mãe até os cinco anos.
“A mãe dela casou e teve outro filho que, infelizmente, nasceu com anemia falciforme e, como precisava de uma atenção maior, ela me perguntou se eu podia ficar com Maria Luísa. Eu só perguntei o dia que ela queria que eu fosse buscá-la. Então, ela veio morar comigo”, narrou.
Questionado como a filha o vê como pai, Manoel Luís não hesitou em responder: Ela me tem como pai durão. Eu controlo muito ela. Acho que tem que ser dessa forma. Acho que perdemos muitos valores, então eu procuro dar a ela o que é correto, mas é o que eu digo a todo mundo: como pai, eu sou perfeito. Ela me chama de perfeito.
Mas, assim como as mães, pais solteiros enfrentam desafios para criar seus filhos sozinhos. Para Luís, uma das fases mais difíceis da criação foi a época que ‘Malu’ era pequena, já que a ocupação dele exige que ele trabalhe em turnos alternados a cada dois dias, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador.
“Eu tive vários problemas porque eu precisava de uma babá e para conseguir uma que dormisse em minha casa era praticamente impossível. Consegui, mas essa pessoa ficou comigo até o ano passado. Foi aí que eu sentei com Maria Luísa e disse que precisava da confiança dela e ela da minha. Agora ela fica sozinha”, relatou.
Atualmente, o pai também enfrenta uma dificuldade: meu pior desafio hoje é ela ser organizada. Porque ela não é. É uma fase, embora eu ache que ela tem que ter responsabilidade. Se ela pode sair, ir para shows, cinema, ela também pode fazer tarefas de casa para ajudar. Não é só a parte boa.
“E os namoradinhos? “
Como o típico “pai durão”, Manoel também afirma ser ciumento. “Eu falei para ela: 12 anos ainda não é idade de paquerar. E eu mostro para ela que se isso acontecer antes do tempo a única prejudicada vai ser ela, não eu. Então eu sempre digo: tenha paciência que tudo vai chegar na sua hora”, declarou.
Embora ciumento, Manoel diz ser sincero com a filha e faz questão de participar de todas as etapas e ocasiões especiais da vida dela. “Eu fui o único que participei das festas de Dia das Mães na escola. Nunca coincide de a mãe ir, ou ela diz que não pode, mas eu também não cobro”.
“Eu falo para todo mundo: eu só não pari, fora isso, eu sei até a data que ela menstruou pela primeira vez. Dia 15 de março de 2016. E eu tive que ensinar ela a usar absorvente, sem nunca ter usado. Eu sou bastante sincero com ela em relação a tudo”, revelou.
Mesmo com todas as dificuldades, Manoel Luís consegue driblar e finaliza: se você perguntar para mim se eu faço as coisas corretas com ela, eu não sei. Eu espero que eu esteja fazendo. Recebo muitas críticas que eu faço as coisas erradas, mas só eu sei o que é que eu passo. E todo o meu tempo livre é dela.