Dia do Professor: histórias inspiradoras revelam as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia
Por Yasmim Barreto / BNews
O Poder Público na Bahia enfrenta desafios cotidianos para aperfeiçoar a Educação. O governo estadual e as prefeituras desenvolvem em parceria com o governo federal diversos programas para reduzir os índices de analfabetismo.
Garantir acesso à estrutura compatível, materiais didáticos apropriados para cada idade e investimentos na qualificação dos professores são algumas das tarefas das gestões. No Dia do Professor, histórias inspiradoras revelam as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia.
Nos últimos anos a Bahia inverteu a curva do analfabetismo e possui números positivos, tanto na área urbana, quanto na rural. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de analfabetos na Bahia regrediu com o passar dos anos. Em 2012, na área urbana foram registrados 12,5% e na área rural 28,1%. Já em 2015, na área urbana o quantitativo diminuiu para 10,4% e na área rural para 25,1%.
Isso está relacionado a programas educacionais como o Todos pela Educação (TOPA), que segundo o governo do estado, desde 2007 já beneficiou 936 mil pessoas, com idade a partir de 15 anos, em todo o Estado, que não conseguiram se alfabetizar na idade prevista. Outro exemplo, este no âmbito municipal, é a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA), que trabalha também na reparação do déficit desse público.
No Brasil, de acordo com o IBGE, a taxa de analfabetos com 15 anos ou mais foi reduzida durante quatro anos consecutivos. Em 2012, o índice foi estimado em 8,7%, já em 2013 esse número caiu para 8,5% e em 2014, ficou em 8,3%.
História inspiradora – Neste domingo (15), em comemoração ao Dia do Professor, data oficializada no ano de 1963 pela lei do Decreto Federal 52.682, o BNews conta a história de Dona Norberta de Assis, uma senhora de 99 anos que voltou a estudar através da EJA.
A equipe de reportagem do BNews encontrou algumas instituições que aderem a EJA, dentre elas a Escola Municipal Comunitária Cristo Redentor, localizada na Chapada do Rio Vermelho, onde estuda Dona Norberta.
De acordo com os educadores da escola, a estudante, que vai completar 100 anos em dezembro, tem um comportamento exemplar, é interessada e dribla as dificuldades de locomoção para poder garantir a presença em todas as aulas.
A própria Dona Norberta explica: não falto nenhum dia. Só não vim um porque a ‘pró’ disse que não tinha escola.
A idosa explica que voltou a estudar após ser acometida por um derrame e ter esquecido tudo o que havia aprendido.
A coordenadora da instituição, Paula Shirley, ressaltou as dificuldades enfrentadas para a execução da EJA para atender o público idoso. “A começar pela estrutura física que não é apropriada porque a escola geralmente é pensada para a criança. Aqui é uma sala para educação infantil, as escolas de maneira geral não têm estrutura adaptada para um idoso”.
Paula conta que a maioria de seus alunos já passou pelo sistema regular de ensino, porém não conseguiram prosseguir, então retornaram às escolas para aprender o que perderam. A coordenadora aponta que os objetivos, dentro da escrita e leitura, parecem simples, contudo, dentro da realidade de cada um, essa dificuldade pode se tornar um desafio de grande proporção.
A educadora atua há 14 anos na rede municipal de ensino. Neste período são vários os casos intrigantes narrados por ela como o de um homem de 46 anos que voltou a estudar para tirar a carteira de identidade.
”Ele tem dificuldade de coordenação motora fina. Não consegue traçar o nome dele menor. Conheceu os números há pouco tempo. Ele é um trabalhador da construção civil que se vira na vida, aprendeu a fazer o nome dele agora. Já passou pelo sistema de ensino, repetiu, se perdeu, entrou no mundo do trabalho e agora voltou porque quer tirar a carteira de identidade”.
A ânsia do aluno da EJA vai além da alfabetização. Segundo a professora Dilma Fátima, que leciona no segmento há quatro anos, o estudante procura algo que possa agregar em sua renda. “Ele vem interessado em aprender a ler e escrever, mas o que a gente sente através de conversas com eles é que existe a necessidade de oficinas profissionalizantes”.
De acordo com Dilma, o orçamento não é suficiente e os professores se esforçam para atrair os alunos à sala de aula. ”A gente sofre junto, porque queríamos um investimento muito maior. Acho que o mal do professor é sempre querer o melhor para o aluno, sempre querer mais e esse ‘mais’, às vezes, não chega e a gente é que tem que investir com o pouco que temos para tentar não cair na mesmice, porque se deixarmos isso acontecer os alunos somem”.
Entre as maiores dificuldades para manter os alunos estudando, a professora destacou que ao necessitarem de transferência de escolas, já que na que estão não possui a série seguinte, os alunos desistem. A maioria é de idosos e problemas de locomoção dificultam a continuidade do aprendizado em outra instituição, muitas vezes, localizadas em lugares distantes.
Resgatando os estudos – A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um segmento da educação básica que contribui para alfabetização de pessoas a partir de 15 anos que não conseguiram concluir no período certo. É organizado para atender um público específico de jovens, adultos e idosos.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Salvador (SMED), a modalidade de ensino tem 23.028 alunos matriculados no ano de 2017, um aumento de 7% em comparação a 2016, quando esse número era apenas de 21.675.
“A Educação de Jovens e Adultos é um instrumento de garantia de direito, que reduz as desigualdades, gera oportunidades e abre inúmeras portas, seja na vida profissional, seja no campo pessoal. Temos ainda um contingente muito grande de pessoas não alfabetizadas no Brasil, que enfrentam problemas cotidianos, como pegar um ônibus, pagar uma conta até na questão da empregabilidade”, afirma o secretário municipal de Educação, Bruno Barral.
Segundo Barral, é fundamental a oferta dessa modalidade de ensino nas escolas. “A secretaria tem se esmerado nesse aspecto e oferecido uma educação de qualidade aos nossos alunos de EJA. Mais que isso, uma escola acolhedora e incentivadora, que proporciona a reflexão, a sensação de pertencimento e impulsiona conquistas individuais, de exercício pleno da cidadania”.
Reparando danos — O governo do estado também oferece um programa de redução do analfabetismo. O Todos pela Educação (Topa) existe há 10 anos e alcançou mais de 1,5 milhão de baianos que buscavam pela alfabetização, conforme números oficiais. Segundo a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, os locais onde acontecem as aulas variam entre escolas, igrejas, associações de bairro ou até mesmo sindicatos. Assim como o EJA, o público-alvo do Topa são jovens acima de 15 anos, adultos ou idosos.
De acordo com a assessoria de comunicação da secretaria de Educação, o alcance social fez com que o programa conquistasse o prêmio Darcy Ribeiro, concedido anualmente pela Comissão de Educação e Cultura e a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. O programa também já conquistou a Medalha Paulo Freire, pelo Ministério da Educação.
A realização do Topa é feita através de parcerias do Estado com prefeituras, entidades de movimentos sociais e sindicais, universidade públicas e institutos de educação sem fins lucrativos. Neste ano de 2017, está disponibilizado 15 mil vagas, em 112 municípios.