Depois de afagar China, Bolsonaro recebe Huawei
Dias depois de ter se reunido com o líder chinês, Xi Jinping, durante encontro do Brics, o presidente Jair Bolsonaro recebe nesta segunda-feira (18) o presidente-executivo da Huawei no Brasil, Wei Yao.
A agenda, de acordo com assessores presidenciais, foi solicitada pela empresa chinesa, que está de olho no mercado brasileiro em meio a uma guerra comercial entre o país asiático e os Estados Unidos sobre tecnologia.
Além de Bolsonaro, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, participará do encontro, na tarde de segunda no Palácio do Planalto, em Brasília.
A expectativa é que assuntos como a tecnologia 5G esteja na pauta. O tema está no centro da disputa entre EUA e China, e o governo brasileiro tenta se manter neutro na guerra entre os dois gigantes.
Em Pequim, em visita oficial realizada em outubro, disse que o Brasil vai aguardar a melhor oferta no leilão da tecnologia 5G e que não se posicionará agora sobre a disputa.
A Huawei é a detentora da tecnologia e foi tema de conversa reservada entre o presidente brasileiro e Donald Trump, dos EUA. A afirmação foi feita pelo próprio Bolsonaro durante visita na China.
Os EUA têm feito campanha aberta contra a gigante chinesa. O país impôs sanções à Huawei, alegando que a companhia representa um risco à segurança nacional.
A conversa de Bolsonaro com o presidente-executivo da Huawei ocorre depois de ele ter feito acenos a Xi em reunião fechada do Brics, na quinta-feira (14), como mostrou a Folha de S.Paulo.
Segundo relatos feitos à reportagem por participantes do encontro, Bolsonaro disse ter falado mal do país asiático em 2018, na condição de candidato, mas afirmou que hoje todos sabem que isso não reflete a verdade.
Como mostrou a Folha de S.Paulo nesta sexta (15), a China pôs à disposição do governo Bolsonaro mais de US$ 100 bilhões de pelo menos cinco fundos estatais para uma nova rodada de investimentos no Brasil.
Nas reuniões ocorridas entre os países nesta semana em Brasília, Pequim também sinalizou com uma expansão do crédito por meio de seus bancos no Brasil para competir principalmente por clientes do agronegócio e da indústria.
No caso dos fundos de investimento, a maior parte dos recursos deverá financiar projetos de infraestrutura.
Embora a gestão atual afirme que os EUA são aliados de primeira ordem, o governo brasileiro também tem metas ao se relacionar com a China.
Um objetivo é aumentar o valor agregado das exportações brasileiras para os chineses, hoje muito concentradas em commodities –nesse tema, ainda não há nenhuma sinalização concreta da parte dos chineses.
O segundo objetivo é atrair investimentos da China em infraestrutura no Brasil –e Xi acenou durante a cúpula com uma maior atuação da Iniciativa Cinturão e Rota, que fomenta projetos considerados estratégicos por Pequim e oferece financiamento do Banco de Desenvolvimento da China.
Bolsonaro está tentando conciliar dois movimentos antagônicos dentro do governo: um do núcleo mais ideológico, que prega alinhamento automático com os Esta- dos Unidos, e outro mais pragmático, que reconhece a necessidade de intensificar relações com a China.
Esse equilíbrio do Brasil entre demandas da China e EUA será testado no segundo semestre do ano que vem, durante o leilão do 5G. Os EUA pressionam para que o Brasil barre a gigante chinesa de telecomunicações Huawei do fornecimento, afirmando que ela representa uma ameaça à segurança nacional.
Os chineses oferecem o pacote mais barato, na comparação com os concorrentes (Ericsson e Samsung), e podem retaliar o Brasil em áreas importantes, caso sejam excluídos do fornecimento.
Até agora, só Austrália, Nova Zelândia, Japão e Vietnã se renderam às pressões dos americanos.
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