Com temor a coronavírus, Bolsas despencam e dólar bate R$ 4,23
Com um salto de 40% no número de mortos e infectados pelo coronavírus chinês de domingo (26) para esta segunda-feira (27), o mercado financeiro opera em aversão a risco. Para investidores, o caso fugiu do controle chinês e pode ter grandes impactos na economia. Até o momento, 81 pessoas morreram e 2.744 foram infectadas.
Analistas avaliam que o dano econômico pode ser maior do que a epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave) que deixou centenas de mortos em 2003.
“Naquela época, as economias estavam iniciando um movimento de expansão após uma grave crise; hoje, o mundo está exatamente na direção oposta, com as grandes economias lutando para impedir que uma desaceleração mais forte na atividade possa se tornar uma recessão.
Caso o coronavírus estenda seus efeitos, os indicadores econômicos do 1º trimestre podem ser duramente impactados. E com os juros tão baixos mundo afora, os Bancos Centrais podem ter menos ferramentas para estimular as economias”, diz relatório da Rico.
Em 2003, a epidemia de Sars fez o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) desacelerar dois pontos percentuais entre o primeiro e segundo trimestre, de 11,1% a 9,1%. No ano, a China cresceu 10%.
“Desde então, a economia chinesa cresceu muito, então o impacto do coronavírus no PIB deve ser reduzido, de 0,5 ponto percentual para baixo. Contudo, qualquer mudança no crescimento chinês, por mais que seja apenas 0,1 ponto percentual, impacta muito a economia mundial”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.
Para a agência de classificação de risco S&P, o crescimento do PIB da China pode cair em cerca de 1,2 ponto percentual em 2020 caso os gastos de consumo, especialmente em transporte e diversão, caiam 10%.
Para restringir a propagação do vírus durante as festividades do Ano Novo chinês, o governo suspendeu nesta segunda as viagens organizadas na China e para o exterior, um duro golpe para o turismo, peso-pesado da economia com 11% do PIB em 2018 segundo cifras oficiais.
A última previsão do FMI (Fundo Monetário internacional), de 20 de janeiro, é de crescimento de 6% do PIB chinês em 2020. Em 2019, a China cresceu 6,1% em 2019 em relação ao ano anterior -o pior índice em 29 anos.
O mercado teme que o surto de coronavírus agrave a desaceleração econômica do país e do mundo, já que a China é a segunda maior economia, atrás apenas de Estados Unidos.
A doença, que se alastra desde de dezembro, gerou drásticas restrições de tráfego, uma paralisia do turismo e a queda do consumo na China.
Para conter o vírus, Pequim adotou medidas de confinamento. A região metropolitana de Wuhan, berço do vírus, está cortada do mundo, assim como quase toda a província central de Hubei, a que pertence.
Wuhan é uma megalópole industrial localizada no centro da China, com 19,7 milhões de habitantes. Ela tem uma localização estratégica entre dois eixos importantes: Yangtze, o rio mais longo da Ásia, que atravessa a cidade de oeste a leste, e o eixo norte-sul de trem, que vai de Pequim a Hong Kong.
Devido à sua localização estratégica, vários consulados estão localizados em Wuhan (França, Reino Unido, Estados Unidos). Além disso, é uma importante plataforma aeroportuária, com conexões diretas à Europa, Oriente Médio e Estados Unidos.
Com sua localização central, a cidade é um dos centros da indústria siderúrgica, onde são fabricados 60% dos trilhos de alta velocidade do país, e aloca cerca de 160 empresas japonesas, de todos os setores.
Wuhan também é um polo importante da indústria automotiva. Em 1969, foi fundada ali a Dongfeng, a segunda maior fabricante do país e parceira da japonesa Nissan e Honda, além das francesas PSA e Renault, que têm sua base chinesa na cidade.
Com mais de dez fábricas de veículos e cerca de 500 fabricantes de equipamentos, o setor produz cerca de 400 bilhões de yuans por ano (R$ 242,54 bilhões), segundo dados do Changliang Daily. Estima-se que a cidade tenha produzido 1,7 milhão de veículos em 2018.
Além da paralisação das indústrias da região, companhias de outras partes do país estenderam o recesso do Ano Novo chinês.
Nesta segunda, Bolsas de Valores de todo o mundo operam em forte queda. Europa e Estados Unidos tiveram os maiores recuos percentuais em mais de três meses: Londres, Paris e Frankfurt recuaram cerca de 2,5% e Dow Jones e S&P 500 caíram 1,6%. A Nasdaq cedeu 1,9% e a Bolsa de Tóquio teve queda de 2%.
O mercado acionário chinês permanece fechado pelas comemorações do Ano Novo Lunar até 3 de fevereiro. À princípio, as atividades retornariam nesta quinta (30), mas o governo estendeu o feriado de modo a conter o vírus.
No Brasil, o Ibovespa recuou 3,29%, maior queda percentual desde junho de 2019, a 114.482 pontos, menor patamar desde 18 de dezembro. Com a queda de 2% do barril de petróleo, as ações da Petrobras caíram cerca de 4%.
A cotação do dólar comercial chegou a bater R$ 4,23 durante o pregão, mas perdeu força e fechou em alta de 0,5%, a R$ 4,21, maior valor desde 2 de dezembro. A grama do ouro subiu 1,65%, a R$ 215,51.
Em momentos de aversão a risco, investidores tendem a vender ações e comprar ativos mais seguros, como ouro e dólar.
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