Casal de idosos mantido junto em hospital do DF volta para casa

Por G1

De mãos dadas, Francisco e Sebastiana dormem em casa após 10 dias internados (Foto: Jane Alves | Arquivo Pessoal)

história de amor vivida por Sebastiana Matos, 101 anos, e Francisco de Alencar, 102, ganhou mais um capítulo feliz na tarde desta quinta-feira (26). Internados há 10 dias no Hospital Regional de Samambaia, no Distrito Federal, o casal – que está junto há 82 anos – recebeu alta e já está em casa, “dormindo de mãozinhas dadas”, como descreveu a família.

Os dois ganharam alta médica por volta do meio-dia. Ansioso, Francisco rejeitou o lanche das 10h para almoçar em casa na companhia da família. “Ele disse que queria o prato preferido dele: carne moída, arroz, feijão e mandioca”, contou a neta, Jane Alves.

“Foi uma festa, teve riso e choro. Eles sentaram juntos na mesa e comeram bem. Agora só querem descansar.”

Na saúde e na doença

Casados, Francisco, 102 anos, e Sebastiana, 101, ficaram internados juntos em hospital do DF (Foto: Matheus Oliveira | Agência Saúde)

O amor entre Sebastiana e Francisco ganhou repercussão na última sexta (20), quando a direção do hospital público quebrou o protocolo de atendimento e manteve os dois lado a lado, no mesmo quarto.

Ela, com o agravamento no quadro de diabetes, foi internada na segunda (16). Já Francisco deu entrada no dia seguinte por causa de um problema renal. Em alas diferentes, os dois “não cansavam de perguntar um pelo outro”, contou a neta.

“Sebastiana já comeu?”

Inspiração

De mãos dadas durante o dia, família conta que casal sente falta um do outro à noite, quando as macas são afastadas (Foto: Matheus Oliveira | Agência Saúde)

Ao contar como os avós reagiram ao saber da repercussão do caso, Jane disse que o avô gostou de saber que a aventura de amor dos dois se tornou conhecida e já inspira outros casais. “Mas ele ficou se perguntando como um sentimento pode surpreender tantos as pessoas”.

“Agora eles já sabem que o Brasil todo conhece o amor deles. Meu avô sorriu e confirmou: ‘eu amo mesmo a Bastiana’.”

A família também diz ter sido contagiada pela relação dos dois. A neta lembra que alguns tios e outros netos passaram a valorizar mais o amor entre eles quando perceberam a força do sentimento dos avós.

Mais debilitada por causa dos sintomas da doença de Alzheimer e, às vezes, inconsciente, Sebastiana expressa poucas reações. “Ela ficou tranquila quando sentiu que comeu ao lado do meu avô, quando ouviu a vozinha dele perto dela”.

Grudadinhos

Desde que receberam autorização para permanecer juntos no hospital, o casal não se desgrudou. Durante o dia, a família decidiu juntar as camas onde os idosos estavam deitados. À noite, por causa dos aparelhos, elas eram separadas. “Quando se afastam, eles sentem muito”, disse a neta.

“Meu avô passa a noite toda procurando pela mão dela.”

Ao G1, a família de Francisco e Sebastiana contou que a morte de um antes do outro era uma preocupação. No hospital, os dois combinaram que “um não vai morrer sem o outro”.

“Ele ora que quando Deus levar ele, que Deus leve a ‘Bastiana’ também.”

O amor, de tantos anos, foi cultivado com declarações diárias. Jane lembra que os dois costumam dizer que são muito felizes. O avô, em especial, repete que a mulher “é tudo para ele”.

Comemoração de 100 anos de Sebastiana Matos (Foto: Jane Alves | Arquivo Pessoal)

Aventura de amor

Foi na década de 1930 que a história de amor entre Francisco e Sebastiana começou. À procura de trabalho, ainda jovem, Francisco trocou a vida no Maranhão pela atividade no campo, em Goiás.

O primeiro emprego foi em uma fazenda, onde ele encontrou a mulher que, futuramente, se tornou sua esposa. Filha dos donos da casa, mas sem apoio do pai para assumir o relacionamento, a jovem Sebastiana aceitou fugir dali com o então “namorado de olhos azuis”.

“Ele já a achava muito bonita, mas não tinha coragem de falar porque não se sentia digno dela”, conta a neta.

“A tia dela foi o cupido, mas meu bisavô não queria saber porque ele [Francisco] não tinha posses”.

Fazendo jus às grandes histórias de amor narradas em filmes, o casal marcou um dia de encontro para fugir a cavalo, em outubro de 1936.

“No caminho, pararam em uma igreja e se casaram.”

Com o compromisso formalizado, Sebastiana e Francisco só voltaram à cidade natal dela quando o 12º filho nasceu, em 1961.

Centenários, eles recentemente celebraram os respectivos aniversários, com direito à festa, bolo e velinhas – de três dígitos. A comemoração, valorizada pela família, reuniu cerca de 70 netos e 45 bisnetos e oito tataranetos.

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