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Movimento Hippie em Arembepe resiste aos 50 anos. Confira história de parte da Costa de Camaçari

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Um paraíso composto por dunas, praia, coqueiros, rio, localizado à cerca de 30 km da sede de Camaçari conserva em cada pedaço a essência e a história da Bahia dos anos 70. Por lá o espírito de paz e amor, e o lema de uma vida livre ainda guiam os moradores que fazem e fizeram parte da história da Aldeia Hippie de Arembepe. Em 2017, o vilarejo completa 50 anos, sendo o primeiro do tipo no país, e atualmente é a única aldeia existente no Brasil.

Tudo começou ainda na década de 60, mais precisamente no ano de 1967, e alguns anos depois jovens influenciados pelo Festival de Woodstock, pela Tropicália e todo movimento contracultural e hippie encontraram em terras camaçarienses a Fazenda Caratingui, onde hoje está localizada a Aldeia Hippie. Vindos de todos os cantos, passaram a fazer dali a sua morada, construindo cabanas de palha e confeccionando colares e pulseiras.
Esse modo de vida alternativo atraiu grandes artistas como Rita Lee, Janis Joplin, Mick Jagger, Roman Polanski, Raul Seixas, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, tornando a aldeia conhecida mundialmente. Cinco décadas depois, o vilarejo ainda preserva casas com telhas de palha ou madeira, feitas de pau a pique ou pedra.

“É divino morar aqui na aldeia. Cada dia eu agradeço mais por viver aqui”, declara seu Álvaro Machado, 79 anos. Ele conheceu a comunidade em 1983 e desde então não saiu mais. E é assim que acontece com a maioria dos moradores, uma visita rápida e de repente o encantamento com o lugar faz com que se torne sua casa.

Maria Tereza Silva, 56 anos, a Tina, é de Divinópolis (MG), mas encontrou na Aldeia Hippie de Arembepe o seu lugar. “Eu estou aqui já tem 27 anos, cara. Eu vim conhecer a aldeia e estou aqui até hoje”, lembra. Ela veio junto com o marido Carlos Antônio, 55 anos, o Black, e em Arembepe continuaram vendendo e confeccionando produtos artesanais como pulseiras, colares e brincos feitos de aço cirúrgico, pedras, cipó e couro.

Atualmente, são 25 cabanas e cerca de 50 pessoas moram por lá, incluindo crianças. “Eu gosto de morar aqui por causa da liberdade, da natureza em si. Na cidade tem muito carro, a gente fica com medo de sair e aqui tem liberdade. Vai ali dá um mergulho, corre, surfa, anda de skate”, diz o pequeno Salomão Lopes, de 12 anos.

O garoto é filho do morador mais antigo da Aldeia Hippie, o Vicente Nunes Santos, mais conhecido como Alceu, morador há 45 anos. Ele e seus seis irmãos nasceram e ainda vivem o cotidiano do lugar. “É muito aconchegante porque a gente tem esse costume de viver um ajudando o outro. Viver em comunidade é isso. A gente procura aqui resolver a gente mesmo os nossos problemas e isso faz a gente ficar mais próximo sempre”, conta um dos seus irmãos, Amós Lopes, 18 anos.

Desde os anos 90 a localidade conta com uma Associação de Moradores (Amah), que realiza trabalhos comunitários dentro da vila. “O objetivo é conservar a aldeia, conservar essa estrutura pra não deixar expandir mais, pra não deixar invadir. Pra conservar isso aqui do jeito natural”, explica o presidente Carlos Tavares, conhecido como Roque.

Artesanato e turismo

A principal fonte de renda dos moradores é o artesanato e o turismo. Além da feira localizada dentro da aldeia, os artesãos vendem os seus produtos nas praias e garantem que mesmo com toda dificuldade é possível viver da arte. No verão, época de alta temporada, segundo os nativos, pode se ganhar até R$5 mil por mês. Já na baixa temporada, esse valor pode diminuir para R$100 por mês.

“É um trabalho único. A gente vende pra muitas pessoas, do mundo inteiro. A gente vive disso. Todo mundo que passa aqui que leva uma arte contribui pra gente comprar uma matéria ou um feijão, um arroz de amanhã. É assim que funciona”, afirma Josbasan Alves Santos, 36 anos, de apelido Cebola. “A gente depende do turista pra vender a arte e depende da arte pra sobreviver”, complementa.

No entanto, eles cobram um investimento maior do governo no turismo e inclusão da Aldeia Hippie na rota turística de Camaçari. Para o poeta e artesão Walter César, 61 anos, tornar o lugar patrimônio histórico-cultural trará maior segurança para que a aldeia continue existindo.
Pensando em deixar essa memória viva é que ele tem organizado em conjunto com o artista plástico Luiz Cerqueira um projeto para transformar o Spaço Usina de Arte em uma espécie de museu ou centro cultural, com o intuito de abrigar um acervo do movimento hippie. “A gente decidiu que casa nenhuma, não só essa, casa nenhuma na aldeia pode ficar mais abandonada”, pontua Walter.

Além disso, para manter a cena cultural ativa os moradores realizam luaus, mantêm o Museu a céu aberto e há também o projeto Menino Luz, responsável por oferecer aulas de inglês, francês e italiano e oficina de couro para as crianças da comunidade. “O que eles aprendem é o que me dá força para buscar mais para eles”, afirma dona Maria José Pinheiro, 60 anos, uma das diretoras da escolinha.

Preservação ambiental

A Aldeia Hippie integra a Área de Preservação Ambiental (APA) do Rio Capivara, conforme Decreto Estadual de nº 2.219/93. O que significa que o poder público deveria articular ações voltadas para o desenvolvimento e manutenção da qualidade ambiental da área. Porém, as dunas, a vegetação nativa e o Rio Capivara estão sofrendo diretamente com a degradação.

De acordo com Rivelino de Souza, presidente da Associação Coqueiro Solidário (AECOSOL) um dos principais problemas é o tráfego de veículos 4×4 nas dunas, dentro da aldeia e na praia onde ocorre a desova das tartarugas marinhas. O ambientalista conta que houve rompimento de dunas por conta da circulação de quadricículos e veículos de tração. “O que nós precisamos também é o apoio da polícia para coibir o uso de veículo de tração naquela área porque a duna não aguenta”, reclama.

Outros impactos apontados por ele é a expansão imobiliária irregular na comunidade de Sangradouro, a poluição do Rio Capivara por conta do despejo de esgoto desde Areias até a foz no Rio Jacuípe, a diminuição do número de coqueiros e o excesso de lixo deixado muitas vezes por visitantes. Essas mudanças são sentidas diretamente pelos moradores, que relatam o desaparecimento de espécies de peixe, aves e plantas, do camarão pitu e a seca do rio nos últimos anos.

“Nós juntos podemos fazer muito mais em relação aquela área”, diz Rivelino. O ativista aposta que para recuperar a área é necessário fazer uma campanha de reflorestamento e conscientização. A associação planeja um reflorestamento do local com mudas de coqueiro e plantas características da restinga a partir de março de 2018.

Comemoração

Para celebrar esta data nos dias 2 e 3 de dezembro a Associação dos Comerciantes e Prestadores de Serviço de Arembepe (ASCARB) realizou evento na Praça das Amendoeiras. A programação contou com feira de artes, debate, shows e sessão de autógrafos do livro “Anos 70 Bahia”, que narra fatos do cenário baiano daquela época.

A obra foi escrita online, a partir de relatos e imagens enviados pelas redes sociais por 200 internautas durante nove meses. A publicação é idealizada, organizada e tem redação final do publicitário, fotógrafo e produtor cultural Sérgio Siqueira e do escritor, jornalista e publicitário Luiz Afonso Costa.