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Documentário retrata mulheres que foram presas durante o regime militar

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‘Torre das Donzelas’, de Susanna Lira, vai estrear, neste semestre, em festivais de cinema

O foco da lente da documentarista Susanna Lira são as questões femininas. Em 2004, depois de trabalhar como jornalista, ela abriu a produtora Modo Operante para dar voz às protagonistas da vida real. No seu currículo, estão o longa “Positivas” — que aborda mulheres que contraíram o vírus HIV de seus maridos — e o filme “Damas do samba”, sobre a importância de cantoras, sambistas e carnavalescas. Em 2011, Susanna decidiu investigar a ditadura militar sob a ótica feminina.

— Esse tema tem a ver comigo. Meu pai é equatoriano e tudo indica que veio para o Brasil lutar contra os militares. Quando minha mãe contou que estava grávida, ele revelou que era procurado pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e desapareceu. Nunca o conheci, não sei o nome dele, nem se está vivo ou morto — diz a cineasta, que está concluindo o filme “Nada sobre meu pai” para desvendar esse assunto.

E foi assim, remexendo no passado, que ela descobriu a Torre das Donzelas, apelido dado à ala feminina do Presídio Tiradentes (SP), onde cerca de cem militantes foram encarceradas entre o fim dos anos 1960 e o começo da década de 1970. O documentário homônimo, que será apresentado neste semestre em festivais de cinema e entrará em circuito no ano que vem, retrata a sororidade entre as prisioneiras políticas.

— Não quis falar apenas sobre a violência e a tortura. O filme mostra pessoas que conseguiram se O filme mostra pessoas que conseguiram se reinventar. Entrevistei 30 mulheres que passaram pela Torre, praticamente todas que estão vivas, entre elas, a ex-presidente Dilma Rousseff — explica Susanna. — As detentas organizaram um coletivo na prisão, provando que o ser humano pode virar o jogo em qualquer situação. Cada uma ensinava o o que sabia para a outra, inglês, francês. Elas debatiam temas diversos, de orgasmo a macroeconomia. E depois de receber um livro sobre ginástica canadense, em alta naquela época, passaram a praticá-la para manter a forma.

Para recuperar a história do grupo, a cineasta precisou de calma e sensibilidade. Contou com a ajuda de uma ex-prisioneira, a advogada e Conselheira da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça Rita Sipahi, que promoveu um primeiro encontro.

— No princípio, elas ficaram desconfiadas, mas depois perceberam a importância de quebrar o silêncio de 45 anos. Fui umas 50 vezes a São Paulo, onde quase todas moram. Ao longo do processo, pesquisei o que aconteceu dentro da Torre e como essas mulheres se transformaram.

Para dar veracidade às cenas, as celas do Presídio Tiradentes, demolido em 1972, foram reproduzidas por meio de uma instalação montada no estúdio.

— Foi nesse espaço que elas relembraram passagens do cárcere. A sopa de quiabo feita por Dilma e uma outra detenta ficou famosa por ser intragável. A ex-presidente era péssima na cozinha. Já a fotógrafa Nair Benedicto conta que, certa vez, elas receberam uma mala repleta de vestidos de festa.

No lugar de reclamar da inutilidade das roupas naquela situação, resolveram promover um desfile na prisão, ao som de “Vapor Barato”, de Gal Costa. Nesse exato momento,o diretor do presídio e uma senhora da sociedade foram visitá-las. Por achar que elas estavam enlouquecendo, ele instituiu o banho de sol. A moda foi salvadora. Recriamos essa cena com a participação de atrizes — diz a diretora.

Enquanto finaliza “Torre das Donzelas”, Susanna também se dedica ao documentário “Meu corpo é mais”, que vai ao ar neste semestre no canal GNT. O filme traz relatos de mulheres com manequim acima do 46 que estão felizes com suas silhuetas. Em ambas as obras, histórias de superação capazes de transformar heroínas do cotidiano em verdadeiras estrelas.

Por Agência O Globo